9 de maio de 2007

A tribo do mar invade a terra

"A cantora islandesa está de Volta" foi a frase mais repetida nos jornais portugueses (excepto o Público que, por algum motivo, lhe decidiu chamar "monstro"). Volta é uma invasão sonora, completamente distinta dos trabalhos anteriores, especialmente os mais recentes. E, nesse aspecto, a música que abre o álbum é bastante representativa do seu conteúdo. "Earth Intruders" começa ao som de uma marcha, tribal, à qual se juntam os sons industriais e ritmados característicos do Timbaland. Um verdadeiro tsunami de palavras enche a música, um pedido de justiça, segundo a cantora, influenciado pelas vítimas da tragédia que abalou o mundo em 2004.

Um coro de cargueiros anuncia a chegada de "Wanderlust", uma das minhas músicas preferidas deste álbum. Quando, há algum tempo atrás, se soube que a Björk tinha comprado um cargueiro para viver enquanto viajava pelo mundo, era de se prever a influência do barco no trabalho da cantora. Os instrumentos de sopro estão bastante presentes no álbum, que prossegue em terra com um belíssimo dueto com Antony Hegarty (dos Antony and the Johnsons). A química entre os dois cantores faz de "The Dull Flame of Desire" uma música apaixonante, daquelas para ouvir junto ao mar com alguém especial. Lamechiches à parte, pois "Innocence" quebra toda a atmosfera e invade com batidas fortes, semelhantes às que Timbaland tinha já produzido para Missy Elliot.

As transições entre as músicas estão feitas de uma forma excelente, criando momentos de quebra e de ligação que realçam a noção de continuidade do álbum como um todo. "I See Who You Are" é uma música calma e melodiosa, marcada pela contribuição da chinesa Min Xiao-Ben, que se destaca por estar inserida entre duas músicas de sonoridade industrial. Os sopros de "Vertebrae by Vertebrae" acalmam em "Pneumonia", provavelmente a música com a melhor letra do álbum. No entanto, "Hope" é a mistura mais curiosa do álbum, uma letra polémica, cordas chinesas na terceira (e última) contribuição de Timbaland para este álbum. Críticos e fãs não ficaram indiferentes à letra "whats the lesser of 2 evils? / if a suicide bomber made to look pregnant / manages to kill her target or not?".

Mas a verdadeira revolta está presente em "Declare Independence". Uma conquista não seria possível sem alguma violência, e finalmente a tribo invasora levanta a sua bandeira. No entanto, o álbum só termina com "My Juvenile", em que Antony presta novamente uma boa contribuição, desta vez no papel de "consciência", numa tentativa bem sucedida de melhorar o final. "This is an offer to better the last let-go"...

É discutível dizer se Volta é o melhor álbum de Björk alguma vez feito. As reacções variam conforme quem o ouve, até mesmo com o número de vezes que se ouve. Talvez no futuro seja mais fácil poder afirmá-lo, ou não. Mas tem qualidade ao nível do melhor a que a Björk já nos habituou, o que já é dizer muito bem de qualquer álbum.

Obrigatório ouvir: "Wanderlust", "The Dull Flame of Desire" e "Earth Intruders"

3 comentários:

Unknown disse...

Contando que quero que o Timbaland morra longe, o álbum está bom, sim, gostei bastante.

Abraço.

Actriz Principal disse...

Também adorei a Wanderlust, foi uma boa surpresa. Quanto aos duetos, estou a estranhar bastante a voz de um completo estranho na 2 músicas, estou só habituada a ela sozinha... A ver vamos

♪Nice and Sweet♪ disse...

Realmente a Björk Volta em grande!!!Uma das minhas cantoras favoritas...Tenho mesmo que ir comprar o album...não sei de que é que estou à espera!!!