Hoje decidi meter-me num autocarro, por pura preguiça de caminhar o trajecto equivalente a apenas uma paragem. Os transportes públicos são autênticos emaranhados nas nossas linhas. O autocarro entra e uma típica velha sentada no banco atrás do motorista pergunta-lhe se vai passar em determinada paragem, como é habitual, uma vez que o trânsito está todo alterado com as obras. Nisto, um velho que estava mesmo à minha beira, responde-lhe bem alto que o autocarro passa nessa paragem, que é só uma rua que está cortada e que é preciso ser-se mesmo burro pra não perceber isto. Mas, dizia ele, a culpa disto tudo é do Presidente da Câmara do Porto, que faz estas obras todas ao mesmo tempo e depois as pessoas não percebem nada. As pessoas, continuou ele, dão razão ao senhor presidente e defendem o senhor presidente, mas era quem se revoltasse e acabasse com esta merda toda. "Era fazer como em França e por tudo a arder!"
Enquanto me divertia, observando todo o discurso inflamado do velho que gritava sozinho, sem ninguém que lhe respondesse, sou interpelado por uma senhora que estava atrás de mim. "Uma pessoa ri-se mas ele até tem razão. E quem sofre mais são vocês, que estudam, e vão directos pro desemprego! Isto está mesmo muito mal... antes do 25 de Abril éramos oprimidos, mas havia emprego pra toda a gente. E ele guardava muito e éramos oprimidos, mas ninguém ficava sem emprego. Agora eles roubam, sabe-se e o povo vota neles na mesma! E depois vocês, médicos, engenheiros, andam aí todos a lavar copos. E é se tiverem sorte!"... Mas o pior foi que a senhora também saiu na mesma paragem que eu, e lá continuou "que os engenheiros já têm muita sorte se conseguirem ir varrer as ruas, porque os outros nem isso conseguem" ao que eu respondi que o pior são as pessoas que recusam empregos que consideram "inferiores" para o seu estatuto. O discurso da senhora mudou logo para "e depois recebemos reformas que são uma miséria, por causa dessas pessoas que não fazem nada e recebem o fundo de desemprego!" Protestou mais um pouco mas, felizmente, os nossos caminhos separaram-se. Desejou-me muitas felicidades.

E eu que só vim até aqui para tomar um café ao fim da tarde, antes de ir para casa...
3 comentários:
Commentários de autocarros... que seria eu sem eles?
Ainda tenho marcano na cara que, no ano de 2006, 2 mulheres afirmaram que eu era alguém giro e que merecia uma namorada, no dia de S. Valentim.
Isso ou as discussões convitas das novas linhas da STCP, intercalado com a legislação do aborto, e agora a novva moda é a da pequena e inocente inglesa (que nem o nome sabem pronunciar)...
eu gostei particularmente de uma vez em que uma miúda quis partilhar a discussão que estava a ter com a mãe, e não nos deixou mesmo ficar mal porque até repetia em altos berros o que a mãe dizia ^_^ acho que foi simpático.
gostei da metáfora das linhas, a minha deve ser verde...:X
Hahahahaha quem já não passou por uma situação destas? O que eu acho é que cada vez mais as pessoas se sentem sozinhas e com necessidade de falarem com alguém.
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