11 de maio de 2007

Life interference

Costumo pensar que a vida de cada pessoa é uma linha... ao longo do seu percurso, as linhas de cada um vão seguindo caminhos diferentes, por vezes cruzando, por vezes seguindo o mesmo caminho durante certos períodos de tempo. Há situações curiosas, como linhas que seguem caminhos próximos durante anos, paralelamente, até que alguma situação faça com que estes se cruzem.

Hoje decidi meter-me num autocarro, por pura preguiça de caminhar o trajecto equivalente a apenas uma paragem. Os transportes públicos são autênticos emaranhados nas nossas linhas. O autocarro entra e uma típica velha sentada no banco atrás do motorista pergunta-lhe se vai passar em determinada paragem, como é habitual, uma vez que o trânsito está todo alterado com as obras. Nisto, um velho que estava mesmo à minha beira, responde-lhe bem alto que o autocarro passa nessa paragem, que é só uma rua que está cortada e que é preciso ser-se mesmo burro pra não perceber isto. Mas, dizia ele, a culpa disto tudo é do Presidente da Câmara do Porto, que faz estas obras todas ao mesmo tempo e depois as pessoas não percebem nada. As pessoas, continuou ele, dão razão ao senhor presidente e defendem o senhor presidente, mas era quem se revoltasse e acabasse com esta merda toda. "Era fazer como em França e por tudo a arder!"

Enquanto me divertia, observando todo o discurso inflamado do velho que gritava sozinho, sem ninguém que lhe respondesse, sou interpelado por uma senhora que estava atrás de mim. "Uma pessoa ri-se mas ele até tem razão. E quem sofre mais são vocês, que estudam, e vão directos pro desemprego! Isto está mesmo muito mal... antes do 25 de Abril éramos oprimidos, mas havia emprego pra toda a gente. E ele guardava muito e éramos oprimidos, mas ninguém ficava sem emprego. Agora eles roubam, sabe-se e o povo vota neles na mesma! E depois vocês, médicos, engenheiros, andam aí todos a lavar copos. E é se tiverem sorte!"... Mas o pior foi que a senhora também saiu na mesma paragem que eu, e lá continuou "que os engenheiros já têm muita sorte se conseguirem ir varrer as ruas, porque os outros nem isso conseguem" ao que eu respondi que o pior são as pessoas que recusam empregos que consideram "inferiores" para o seu estatuto. O discurso da senhora mudou logo para "e depois recebemos reformas que são uma miséria, por causa dessas pessoas que não fazem nada e recebem o fundo de desemprego!" Protestou mais um pouco mas, felizmente, os nossos caminhos separaram-se. Desejou-me muitas felicidades.

E eu que só vim até aqui para tomar um café ao fim da tarde, antes de ir para casa...

3 comentários:

Nuno Mendes disse...

Commentários de autocarros... que seria eu sem eles?

Ainda tenho marcano na cara que, no ano de 2006, 2 mulheres afirmaram que eu era alguém giro e que merecia uma namorada, no dia de S. Valentim.

Isso ou as discussões convitas das novas linhas da STCP, intercalado com a legislação do aborto, e agora a novva moda é a da pequena e inocente inglesa (que nem o nome sabem pronunciar)...

Unknown disse...

eu gostei particularmente de uma vez em que uma miúda quis partilhar a discussão que estava a ter com a mãe, e não nos deixou mesmo ficar mal porque até repetia em altos berros o que a mãe dizia ^_^ acho que foi simpático.

gostei da metáfora das linhas, a minha deve ser verde...:X

Actriz Principal disse...

Hahahahaha quem já não passou por uma situação destas? O que eu acho é que cada vez mais as pessoas se sentem sozinhas e com necessidade de falarem com alguém.