16 de janeiro de 2008

Mathangi Arulpragasam (M.I.A.)


M.I.A., como é conhecida, foi para mim uma descoberta muito peculiar. Após constatar a maneira como a crítica internacional aclamou o álbum "Kala", senti alguma curiosidade em ouvir e tentar perceber a razão de tanto interesse existente à volta desta cantora. Com uma rápida pesquisa no YouTube, descobri os vídeos de "Jimmy" e "Bird Flu". E, com isto, fiquei na dúvida se M.I.A. seria, afinal, uma cantora indiana ou do médio oriente, que tinha recolhido influências ocidentais para as suas músicas. Mais alguns vídeos, começo a notar muita influência de hip-hop e até da música latina. Uma crise de identidade que me fez pesquisar mais sobre ela, até que descobri que afinal Mathangi Arulpragasam é uma artista londrina originária do Sri Lanka.

Mas o que faz com que a música de M.I.A. se destaque, não são as galinhas a marcar o ritmo de "Bird Flu", nem os tiros que são disparados no refrão de "Paper Planes". O que realmente faz com que a música de M.I.A. seja única é a total ausência de uma referência geográfica ou cultural que nos faça associá-la directamente a um determinado país. É a forma como o tecno, o hip-hop e muitos outros estilos se fundem perfeitamente com um toque de Bollywood, numa única música. A forma como se transmite a mensagem de uma música que é de todo o mundo e não de lugar nenhum. Se a globalização está associada a uma mistura de culturas, então a música de M.I.A. representa essa mistura na perfeição.

As mensagens têm um forte carácter político, como seria de esperar de uma mistura de tal envergadura. Capitalismo, violência e terrorismo, todos têm lugar para uma crítica nas músicas. Mas o maior ataque é dirigido directamente contra a xenofobia. Segundo a artista, as pessoas hoje em dia não sentem que os imigrantes ou refugiados possam trazer algo de novo ou positivo a nível cultural. A sua música prova exactamente o contrário: a casa de M.I.A. é o mundo, não há "estrangeiros".

Mas, com tanta coisa à mistura, como é possível que a música funcione? É certo que nem todos irão gostar, e que dificilmente sairá daqui uma Rihana com milhões e milhões de cópias vendidas (apesar da discutível qualidade das suas músicas). Mas a arte de M.I.A. transcende a própria música. Um exemplo claro disso é o videoclip de "Jimmy", feito a partir de dois elementos vindo de culturas tipicamente consideradas "opostas": indumentária e coreografia claramente oriental (muito ao estilo indiano) conjugadas com uma parede de LED's coloridos e imagens iconográficas. O vídeo é visualmente viciante (embora não seja recomendado a pessoas que sofram de epilepsia).

M.I.A. - Jimmy


Do álbum "Kala", para além da Jimmy, recomendo músicas como "Bird Flu", "World Town", "Hussel" e a absolutamente genial "Paper Planes". Esta última tem uma mensagem extremamente directa contra o capitalismo e a xenofobia. Para terminar este já longo post, deixo então o vídeo para uma música que, para mim, chega a ser arrepiante.

M.I.A. - Paper Planes

1 comentário:

Nuno Mendes disse...

A Jimmy ganha por causa dos homens pixelizados. Ah, e as cores, mais os braços inúmeros, e o toque à bollywood, e...

Mas a nacionalidade dela continua a ser um dos segredos de Fátima.